Quando pensamos em Logística hoje, é comum imaginarmos armazéns automatizados, softwares de roteirização, inteligência artificial e dashboards de KPIs com cores vibrantes. Mas a verdade é que o conceito de logística, como estratégia de sobrevivência e eficiência operacional, nasceu muito antes das tecnologias modernas.
Ela nasceu… no campo de batalha.
A Intendência: A Primeira escola de Logística
Antes de falarmos de Supply Chain Management, WMS ou TMS, precisamos olhar para um termo que marcou a história de muitos exércitos ao redor do mundo: Intendência.
Responsável por abastecer tropas com alimentos, munições, roupas e equipamentos, a Intendência foi a primeira estrutura formal que lidou com os principais desafios que hoje enfrentamos nas empresas:
- Previsão de demanda
- Gestão de estoques
- Planejamento de transporte
- Riscos de ruptura de suprimento
- Lead time de entregas críticas
Na época, o objetivo era claro: garantir a mobilidade e a sobrevivência das tropas. Não havia margem para atrasos. Uma falha na linha de suprimento podia significar derrota, mortes e o colapso da missão.
Da Guerra ao Mercado: a transição da Logística
Com o passar dos anos e o avanço das indústrias, principalmente após as Grandes Guerras, muitas práticas da intendência foram adaptadas para o ambiente corporativo. O que antes era “linha de suprimentos”, virou Supply Chain. O que era “estoque de emergência”, virou Safety Stock. O que era o “tempo de resposta no campo”, virou Lead Time.
Empresas começaram a perceber que a lógica por trás de abastecer um exército era a mesma de abastecer lojas, fábricas e centros de distribuição.
Ronald H. Ballou: O engenheiro que colocou ciência na Logística
Foi nesse contexto que, em 1973, um engenheiro industrial chamado Ronald H. Ballou lançou aquele que se tornaria um dos livros mais influentes da história da logística: “Business Logistics Management”.
Ballou fez o que poucos haviam feito até então:
Ele trouxe matemática, ciência de operações e análise de trade-offs para o universo da logística empresarial.
Conceitos como:
- Custo Total da Logística
- Trade-offs entre transporte, estoque e nível de serviço
- Modelos de localização de instalações
- Dimensionamento de estoques e roteirização de transporte
Tornaram-se leitura obrigatória para profissionais e acadêmicos da área.
O que a Intendência ainda nos ensina?
Apesar de toda a tecnologia disponível, os fundamentos continuam os mesmos:
- Ter uma boa estratégia de abastecimento
- Saber reagir rapidamente a imprevistos
- Entender o equilíbrio entre custo e nível de serviço
- Antecipar cenários de risco
- Trabalhar com recursos limitados, mas com inteligência de alocação
Se ontem o inimigo era o exército adversário, hoje o inimigo é a ruptura de estoque, a insatisfação do cliente, o custo logístico descontrolado e a perda de competitividade.
Fecho com uma reflexão para os novos profissionais de Logística e Supply Chain:
A logística nasceu no campo de batalha. E hoje, continua vencendo guerras… só que agora, no mundo corporativo.